Elis e Tom: Clássico, lendário e mais icônico álbum da MPB

    O embate entre Elis Regina e Tom Jobim, dois ícones da música brasileira, reflete não apenas divergências artísticas, mas também uma intricada teia de relações pessoais e históricas. Enquanto Jobim rejeitava o estilo exuberante de Elis, a vendo como uma intrusa no universo da bossa nova, a cantora enxergava nele um reflexo de seu ex-marido, Ronaldo Bôscoli. Essa tensão inicial entre eles se manifestou nos primeiros encontros, permeados por comentários ásperos e desconfiança mútua. Nos anos 60, Elis tinha sido cotada para estrelar o musical Pobre Menina Rica de Carlos Lyra e Vinícius de Moraes, papel que ficou para Nara Leão, pois teria sido reprovada por Tom Jobim, que também a teria chamado de "gauchinha cheirando a churrasco". No entanto, por trás desses conflitos, reside uma narrativa fascinante sobre a intersecção entre personalidades, estilos musicais e egos, que moldaram não apenas suas trajetórias individuais, mas também a história da música brasileira.


    Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, conhecido como Tom Jobim, veio ao mundo no bairro da Tijuca, Rio de Janeiro, em 25 de janeiro de 1927. Filho de um diplomata, cresceu em meio a uma família de artistas e boêmios, onde os sons do piano da avó e as serestas dos tios preenchiam o ambiente. Em 1928, a família mudou-se para Ipanema, onde Jobim passou a infância. Aos oito anos, perdeu o pai, mas recebeu de presente um piano do padrasto, despertando seu talento musical.


    Desde cedo, Tom Jobim demonstrava habilidade ao tocar músicas de ouvido. Seu interesse pela música o levou a estudar piano com diversos mestres, incluindo Hans Joachim Koellreutter, Lúcia Branco e Tomás Teran, sendo profundamente influenciado pela obra de Heitor Villa-Lobos. Após um breve período trabalhando em um escritório de arquitetura, decidiu abandonar tudo para se dedicar inteiramente à música. Os primeiros passos de Jobim como músico profissional foram nas casas noturnas de Copacabana. Em 1952, foi contratado pela gravadora Continental, onde começou a transcrever músicas dos compositores e, posteriormente, a criar arranjos com a ajuda do maestro Radamés Gnatalli. Sua estreia como compositor foi marcada pela canção "Faz Uma Seresta" (1954), em parceria com Juca Stocklei, seguida pelo sucesso de "Teresa da Praia" (1954), gravada por Lúcio Alves e Dick Farney.
    A parceria com Vinícius de Moraes foi fundamental para sua carreira, destacando-se a harmonização e orquestração da "Valsa de Orfeu", que deu origem a sucessos como "Se Todos Fossem Iguais a Você". Jobim também se destacou como diretor artístico da Odeon até 1958, ano em que Elisete Cardoso gravou várias de suas canções no álbum "Canção do Amor Demais". Em 1959, o lançamento do álbum "Chega de Saudade" por João Gilberto marcou o surgimento da Bossa Nova, com canções como "Desafinado" e "Samba de Uma Nota Só", compostas em parceria com Newton Mendonça, solidificando a posição de Jobim como um dos principais nomes do gênero.
    O ponto alto de sua carreira internacional ocorreu em 21 de novembro de 1962, quando se apresentou no Carnegie Hall, em Nova Iorque, no Festival de Bossa Nova. A partir daí, sua carreira decolou, vivendo entre Rio de Janeiro e Los Angeles nos anos 60. Parcerias com músicos como Stan Getz e Frank Sinatra ampliaram sua presença global. Porém, foi a emblemática "Garota de Ipanema", fruto da parceria com Vinícius de Moraes, que projetou definitivamente o nome de Tom Jobim no exterior, figurando entre as mais executadas em todo o mundo e sendo gravada por renomados artistas, incluindo Frank Sinatra. Assim, a contribuição de Tom Jobim à música brasileira o consagrou como um dos maiores nomes de todos os tempos.


    Elis Regina de Carvalho Costa, natural de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, deu início à sua jornada musical aos onze anos de idade no programa "No Clube do Guri" na Rádio Farroupilha, conduzido por Ari Rego. Em 1960, foi integrada à equipe da Rádio Gaúcha, conquistando o título de “Melhor Cantora do Rádio” no mesmo ano. Aos 16 anos, em 1961, partiu para o Rio de Janeiro, onde lançou seu álbum de estreia "Viva a Brotolândia". Com o decorrer dos anos, seu talento a levou a brilhar no circuito musical Rio-São Paulo. Firmou contrato com a TV Rio para participar do programa "Noite de Gala", sob a direção de Luís Carlos Miele e Ronaldo Bôscoli, período em que desenvolveu os característicos gestos que marcariam sua performance, rendendo-lhe o apelido carinhoso de "Eliscóptero".


    Em 1964, mudou-se para São Paulo, sendo agraciada com o Prêmio Berimbau de Ouro e o Troféu Roquette Pinto, além de ser eleita a melhor cantora do ano. No ano seguinte, estreou no Festival da Record com a emblemática canção “Arrastão”, de Edu Lobo e Vinícius de Moraes.
Entre 1965 e 1967, ao lado de Jair Rodrigues e do Zimbo Trio, Elis comandou o programa "O Fino da Bossa" na TV Record em São Paulo, originando os aclamados discos "Dois na Bossa I, II e III", sendo que o primeiro alcançou a marca de um milhão de cópias vendidas.


    O ano de 1968 marcou o início de sua promissora carreira internacional, com uma memorável apresentação no Olympia de Paris, onde foi ovacionada e chamada ao palco seis vezes após o fim do espetáculo. Foi nesse período que recebeu o apelido de Pimentinha, carinhosamente cunhado por Vinícius de Moraes, em alusão à sua estatura miúda e à personalidade vibrante e cativante.
    Elis Regina se destacou como uma artista versátil, navegando com maestria por diversos estilos musicais, como MPB, jazz, rock, bossa nova e samba, e contribuindo para a ascensão de importantes nomes da música brasileira, como Milton Nascimento, João Bosco e Ivan Lins. Sua arte ecoa até os dias de hoje, imortalizando-a como uma das grandes vozes da história da música brasileira.
    Antes do icônico álbum brasileiro surgir, Tom Jobim e Elis estavam desfrutando do auge de suas carreiras, contudo, Tom começava a sentir a falta do reconhecimento de suas músicas no Brasil como outrora, enquanto Elis passava por uma fase de transição em diversos aspectos, incluindo sonoridade, composição, e uma postura mais madura e politicamente engajada. Durante uma de suas viagens ao exterior, Elis Regina ousou criticar abertamente a ditadura militar em uma entrevista à revista holandesa “Tros-Nederland”, o que a levou a ser marcada como opositora do regime pelo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). Em novembro de 1971, Elis foi convocada para prestar depoimento e negou veementemente todas as acusações.
    No ano de 1972, o governo militar promoveu uma grandiosa festa em celebração ao Sesquicentenário da Independência. Uma série de eventos, incluindo atividades cívicas, esportivas e culturais, foram organizados ao longo do ano. Entre esses eventos, destacou-se o Encontro Cívico Nacional, realizado em 21 de abril de 1972, no qual Elis Regina foi compelida a participar da campanha de comunicação cívica, convocando todos a entoar o Hino Nacional.


    Adicionalmente às propagandas cívicas em abril, em 02 de maio de 1972, Elis Regina foi forçada a se apresentar no evento “III Olimpíadas do Exército", no Ginásio do Grêmio de Porto Alegre, em mais uma celebração alusiva ao Sesquicentenário da Independência. Logo após esses eventos, Elis Regina foi alvo de intensas críticas, sendo rotulada como “traidora” e “amaldiçoada no meio musical”. Não apenas foi “enterrada” pelo cartunista Henfil no cemitério dos mortos-vivos do Caboco Mamadô, mas também foi comparada a Maurice Chevalier, um cantor que se apresentou na Alemanha a convite de Hitler, em 1945.

Charge do cartunista Henfil - Cemitério dos mortos-vivos do Caboco Mamadô

    'Elis & Tom' surgiu como um presente da gravadora Philips (hoje Universal Music) em celebração aos dez anos de contrato com a cantora. A colaboração entre esses ícones da música brasileira se revelou proveitosa para ambos: Elis ansiava por reconhecimento após ter cantado inadvertidamente em um evento militar durante a ditadura, enquanto Tom, residindo no exterior há alguns anos, via na associação com ela uma oportunidade de ampliar sua audiência no Brasil e consolidar seu legado como compositor da MPB. Inicialmente, as gravações, realizadas entre fevereiro e março de 1974, em Los Angeles, EUA, não foram completamente harmoniosas, pois Elis se deparou com um Tom hesitante em ter suas composições arranjadas no piano elétrico por César Camargo Mariano, então esposo da cantora. Tom tentou envolver os maestros Claus Orgeman e Davi Grusin no projeto, mas ambos estavam indisponíveis. César acabou arranjando treze das quatorze faixas, enquanto Tom assinou apenas o arranjo de ‘Modinha’. O notável repertório, repleto de clássicos, foi acompanhado por talentosos músicos como Hélio Delmiro (guitarra), Luizão Maia (baixo), Oscar Castro Neves (violão), Paulo Braga (bateria), além do próprio Tom (piano e violão) e César Camargo Mariano (piano elétrico e acústico). O maestro Bill Hitchcock conduziu uma orquestra de cordas em cinco faixas. O clima de tensão se dissipou quando Elis soltou sua voz. "Foram momentos vivenciados por duas almas sob grande pressão, que só encontraram alívio através da música", revelou Elis Regina.


    O álbum se inicia com "Águas de Março", antes considerada apenas um Side-B de Tom, logo se transformou em um dos mais emblemáticos duetos da música brasileira. A letra desta canção é como um poema que retrata, por meio de uma série de imagens, a chegada das chuvas de março, marcando o término do verão no Brasil. Sua simplicidade e repetição refletem a cadência da chuva e a rotina do cotidiano. Os versos compõem uma sequência de elementos que, à primeira vista, podem parecer desconexos, mas que juntos formam uma narrativa sobre o ciclo da vida e a renovação. Frases como "É pau, é pedra, é o fim do caminho" sugerem obstáculos e o término de uma jornada, enquanto "é um resto de toco, é um pouco sozinho" evoca sentimentos de solidão e resiliência. Há também referências à natureza e ao trabalho rural, como "peroba do campo", "caingá", "candeia" e "Matita Pereira", além da "Festa da Cumeeira", uma tradição que celebra o término da colocação do telhado em uma construção. O refrão "São as águas de março fechando o verão, É a promessa de vida no teu coração" traz uma mensagem de esperança e renovação. As águas de março simbolizam o encerramento de um ciclo e o surgimento de outro, assim como a chuva que purifica e prepara a terra para um novo começo. Dessa forma, a música aborda a resiliência diante dos desafios e a constante oportunidade de recomeçar que a vida oferece. Águas de Março, na versão do dueto de Elis e Tom, foi apontada por estudiosos, jornalistas e críticos de música como a segunda maior canção brasileira pela Rolling Stone, perdendo apenas para "Construção", de Chico Buarque. E claro que eu não deixaria de comentar as improvisações vocais no final da música que, para mim, são icônicas definitivamente. A interpretação dos dois nesta música foi de uma originalidade absurda, por isso que esta versão é tão lendária.
    Já na segunda faixa do disco, "Pois É" transmite uma curta, porém profunda, reflexão sobre o fim de um relacionamento e os sentimentos complexos que surgem após o término. As letras evocam um misto de melancolia, resignação e dificuldade em aceitar a realidade da separação. Em 2000, Björk deu uma entrevista para Vogue Germany e falou: "O canto de Elis cobre todo o espectro de sentimentos, desde gritos de alegria altíssima, até dor mortal. Admiro as pessoas que têm coragem para isso". E é exatamente o que sentimos ao ouvir a voz incomparável de Elis interpretando esta canção, é como se ela realmente transmitisse um profundo sentimento de perda, dor e dificuldade em aceitar o fim de um relacionamento que parecia tão promissor.
    Já a música "Só Tinha De Ser Com Você",  é uma celebração do amor predestinado e da descoberta de uma conexão única e profunda entre duas almas. A música transmite a sensação de um amor guardado por tempo indeterminado, à espera do momento certo e da pessoa certa, ressaltando a ideia de que esse amor sempre pertenceu exclusivamente aos dois envolvidos. A repetição enfática da frase "só tinha de ser com você" reforça a convicção de que não poderia haver outra opção para esse sentimento, que qualquer outro destino seria inadequado e doloroso. A música descreve um amor que se revela como uma epifania, preenchendo um vazio que ninguém mais poderia ocupar. A menção ao 'azul', simbolizando tranquilidade e profundidade, sugere um desejo de mergulhar plenamente nesse sentimento e na paz que ele proporciona.
    Em "Modinha", única música que Tom Jobim assina o arranjo, retrata um coração que não suporta mais viver dilacerado e escravizado por uma ilusão que se revela apenas como desilusão. Expressando o desejo de não mais ser consumido por sentimentos de desespero e melancolia, e comparando a vida a um luar desesperado que derrama tristeza sobre ele. A letra da música se torna uma válvula de escape, uma maneira de liberar emoções que transbordam dentro do coração. A triste canção que brota do peito é vista como uma forma de semear emoções genuínas, permitindo que o coração chore e se liberte das amarras da ilusão e da melancolia. É um apelo por libertação emocional e um reconhecimento da importância de expressar e compartilhar os sentimentos mais profundos.
    Ao som de uma bossa nova clássica e ao mesmo tempo atualizada, "Triste", quinta faixa do disco, expressa o pesar e a tristeza de viver na solidão, imerso na dor de uma paixão não correspondida. É um lamento sobre a cruel realidade de que ninguém pode sustentar-se apenas com ilusões, e que os sonhos muitas vezes precisam ser confrontados com a dura verdade. A beleza da pessoa amada é descrita como algo deslumbrante demais para um coração simples e humilde, causando uma sensação de paralisia e sofrimento sempre que é vista passar. A repetição do refrão "Triste é viver na solidão" ressalta a sensação de angústia diante da impossibilidade de alcançar a felicidade ao lado da pessoa amada. É uma reflexão sobre os desafios emocionais e a resignação diante das adversidades da vida amorosa. Seu fim marcado pelo som de acordes de guitarra elétrica é o que faz da música ser considerada inovadora para a bossa nova.
    "Concorvado", com seu arranjo de flautas cadenciadas e de cordas em segundo plano na música garantem um clima sensual e triste. Evocando um sentimento de calma, amor e gratidão pela presença da pessoa amada. Ela descreve um cenário simples e acolhedor, com um cantinho, um violão e o amor como uma canção capaz de trazer felicidade a quem se ama. A letra sugere a importância de momentos de tranquilidade para refletir e sonhar, enquanto se contempla a beleza do Corcovado Redentor pela janela. A expressão do desejo de manter essa serenidade e proximidade com a pessoa amada até o fim dos dias reforça a intensidade desse amor e a sua capacidade de trazer alegria e realização. A música também relata uma transformação pessoal significativa, indicando que o encontro com o ser amado trouxe uma nova compreensão da felicidade, mudando completamente a perspectiva do eu lírico em relação ao mundo.
    Na faixa "O Que Tinha De Ser", Elis canta apenas acompanhada pelo piano de Jobim, que também sussurra algumas partes da letra. Na música expressa uma profunda gratidão e reconhecimento pelo encontro com o amor verdadeiro. Ela destaca como a presença do parceiro(a) foi uma fonte de esperança e renovação, trazendo uma sensação de retorno à inocência e pureza da infância. Reconhecendo que, mesmo antes de perceber, essa pessoa já ocupava um lugar especial em sua vida, representando a completude e a conexão profunda entre eles como homem e mulher. O encontro aconteceu de forma serena e natural, sem alardes, e as mãos do parceiro(a) foram acolhidas com tranquilidade. A presença desse amor é comparada ao nascer do dia, trazendo luz e calor à alma do eu lírico. Em última análise, a música celebra o inevitável encontro dessas almas afins, como se fosse o destino que trouxe essa união, reforçando a ideia de que esse amor era algo que simplesmente tinha que ser.
    Em "Retrato Branco e Preto", Tom Jobim, revela uma fascinante fusão de influências e sentimentos, inspirado por um violinista cigano, que simboliza a própria nostalgia de Jobim pelo Brasil enquanto residia nos Estados Unidos. A faixa original, presente no álbum "A certain Mr. Jobim", gravado de forma inusitada em uma igreja transformada em estúdio, apresenta uma colaboração marcante com Claus Ogerman, reconhecido arranjador. Com a adição da letra dramática de Chico Buarque, na posterior "Retrato em branco e preto", Tom Jobim demonstra sua maestria na economia e inteligência musical. A habilidade em explorar variações sobre uma célula melódica simples, enriquecendo-a ao máximo, é notável. A repetição rítmica presente na música, aparentemente simples, revela-se como um tratado sobre o potencial expressivo de um intervalo de notas. As diversas interpretações subsequentes, como a de Elis Regina destacam a atemporalidade e a profundidade emocional dessa obra, que se tornou um verdadeiro hino de amor à genialidade de Jobim.
    "Brigas Nunca Mais" apresenta uma atmosfera musical leve e descontraída, caracterizada pelo vocal relaxado de Elis Regina, a cadência sincopada da bateria e os acordes suaves de bossa nova reproduzidos no violão. A ausência do peso das cordas do regente Bill Hitchcock contribui para uma sensação de suavidade e fluidez na faixa. A letra da música reflete habilmente o ciclo de altos e baixos de um relacionamento amoroso, onde ambos os parceiros desempenham papéis alternados de apoio mútuo. Expressando a importância da reciprocidade e da solidez do amor ao atravessar momentos difíceis juntos, destacando a capacidade do amor de superar obstáculos e fortalecer o vínculo entre o casal. O tom de gratidão ao final da música ressalta a valorização da harmonia e da estabilidade no relacionamento, sublinhando a importância da compreensão mútua, da solidariedade e do compromisso para construir uma relação duradoura e verdadeira.
    A música "Por Toda Minha Vida (Exaltação ao Amor)" apresenta uma abordagem diferente das típicas faixas bossanovistas, destacando-se por contar apenas com a orquestra e o vocal de Elis Regina. Essa escolha evidencia a dramaticidade e a intensidade do compromisso amoroso expresso na letra, que promete um amor incondicional e eterno. O eu lírico, por meio de um juramento solene e uma declaração apaixonada, ressalta a singularidade e a profundidade desse sentimento, comparando o amado a uma "estrela pura aparecida". A música transmite realmente uma sensação de exaltação e reverência ao amor, evidenciando-o como o sentimento mais importante e poderoso que existe. A combinação do vocal emotivo de Elis Regina com o clima orquestrado proporciona uma experiência musical envolvente e emocionante, destacando-se por sua atmosfera mais dramática em comparação com outras faixas bossanovistas.
    A música "Fotografia" é mais um exemplo da maestria de Elis Regina em transmitir emoções através de sua interpretação única. Com uma sonoridade leve e envolvente, a canção nos transporta para cenários românticos à beira-mar e para a intimidade de um bar à meia-luz. A voz relaxada de Elis, combinada com o ritmo sincopado da bateria e os acordes suaves do violão (novamente), cria uma atmosfera de cumplicidade e ternura. A letra habilmente descreve a efemeridade dos momentos compartilhados entre amantes, destacando a importância de cada instante vivido. A presença simbólica do mar e da lua acrescenta uma camada de poesia e nostalgia à narrativa, evocando a transitoriedade e a beleza desses encontros. O beijo mencionado ao final da música encapsula toda a intensidade e magia do amor, transformando "Fotografia" em uma celebração dos sentimentos mais profundos e das memórias mais preciosas que ficam gravadas em nossos corações.
    A faixa "Soneto de Separação", com sua atmosfera dramática e arranjos clássicos envolventes, captura de forma magistral a essência das emoções humanas e a complexidade dos relacionamentos. A interação entre os elementos musicais e a expressiva interpretação de Elis elevam a canção a um nível de profundidade e intensidade emocional. As metáforas visuais habilmente utilizadas pelo eu lírico pintam um retrato vívido da fragilidade e da imprevisibilidade dos laços interpessoais, ressaltando como momentos de alegria podem se transformar em tristeza e união em separação em um instante. A música, ao explorar o contraste entre opostos, como riso e pranto, calma e vento, evoca uma reflexão sobre a natureza transitória e fugaz das emoções humanas. Em suma, esta faixa representa uma obra-prima da música brasileira, que cativa e emociona ao abordar temas universais de forma tão poética e profunda.
    Uma das coisas mais adoráveis neste disco é a música "Chovendo na Roseira", que é um verdadeiro deleite auditivo, apresentando uma combinação harmoniosa de instrumentos e vozes que cria uma atmosfera acolhedora e reconfortante. O violão suave, o piano dançante e a bateria delicada se entrelaçam perfeitamente, proporcionando uma base musical envolvente para a voz cativante de Elis Regina. A melodia, guiada pela voz e pelo piano, transmite uma sensação de tranquilidade que é reforçada pela metáfora poética da chuva sobre a roseira. Esta imagem evoca uma sensação de renovação e esperança, enquanto as pétalas de rosa levadas pelo vento simbolizam uma pureza e uma leveza de pensamento. A música é como um abraço caloroso em um dia chuvoso, oferecendo ao ouvinte um momento de serenidade e contemplação diante da beleza simples da natureza.
    "Inútil Paisagem" encerra o disco com uma atmosfera de melancolia e introspecção, oferecendo uma interpretação marcante por parte de Elis Regina, acompanhada apenas pelo piano sensível de Tom Jobim. A canção, conhecida por sua complexidade vocal, exige uma entrega emocional e uma contenção notáveis, características que Elis domina com maestria. A letra, que questiona o significado da natureza e reflete sobre a solidão existencial, é transmitida com uma intensidade emocional que cativa o ouvinte. A colaboração entre Elis e Jobim nesta faixa é verdadeiramente sublime, com ambos os artistas adicionando nuances delicadas à interpretação. O crítico Thom Jurek destaca a performance de Elis como uma das melhores de sua carreira nos anos 70, elogiando-a por deixar o ouvinte completamente satisfeito ao final do disco. Ao optar por uma abordagem mais tradicional, apesar das preocupações iniciais com a modernidade, Jobim e Elis conseguem criar uma peça musical envolvente e atemporal, que ressoa com os ouvintes mesmo após décadas de seu lançamento.
    Em suma, "Elis e Tom" é um disco verdadeiramente maravilhoso e atemporal. Posso até mesmo considerá-lo um clássico e lendário, o mais icônico álbum da MPB. Com um repertório irretocável e interpretações definitivas, esta obra-prima gravada em 1974 continua a encantar os ouvintes até os dias de hoje. Ao reunir o talento incomparável de Tom Jobim na composição e a voz inigualável de Elis Regina na interpretação, o álbum captura o ápice da bossa nova em sua forma mais bela. Além de reinventar a forma de fazer bossa nova. Sem sombra de dúvidas, é um disco de grande impacto destacando-se como um marco na história da música nacional, pois é uma celebração da riqueza da música popular. Com sua magia intemporal, "Elis e Tom" promete permanecer como uma referência essencial para os amantes da boa música, transcendendo gerações e inspirando futuros artistas a manter viva a essência da bossa nova e do talento artístico brasileiro.




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